segunda-feira, 20 de abril de 2020

Memórias - Pragal : Aquando da Exposição de Pintura de um dos seus Filhos, Manuel Rodrigues Domingos

 "A minha simplicidade de operário da construção civil afastou-me,quem sabe, de uma grande carreira artística"
João Fernando,presidente da Associação Cultural Manuel da Fonseca e Manuel Rodrigues Domingos

Neste post vou publicar uma entrevista que realizei a Manuel Rodrigues Domingos-"Manel Daspanholas",na Associação Cultura Manuel da Fonseca,no Pragal,na altura presidida por João Fernando e que ainda hoje está á frente dos destinos da Associação,como presidente,a propósito, da Exposição de Pintura, que esteve patente,nessa agremiação Cultural do Pragal, de 2 de novembro até ao final de dezembro, de 1997. 

Entrevista essa publicada no então- Jornal de Almada, a 21 de Novembro de 1997,e que aqui a vamos reproduzir:.


-" Nascido na Freguesia do Pragal em 12 de julho de 1931[...],muito cedo, após a instrução primária, se tornou operário da construção civil. Tal como muitos outros jovens com quem viveu, não foi fácil a adaptação à dura realidade das infâncias de então. A fuga para um mundo consetâneo com a sua tenra idade fazia-se através de refúgios no "Forno de Cima",na Arrábida -Tejo,onde as brincadeiras substituíam a rotina da sobrevivência.Foi talvez nestes refúgios que se apaixonou pela envolvência natural das paisagens que o rodeavam.

Foi um amor que permaneceu mesmo quando estava longe do seu país, na emigração, recurso para uma vida melhor.Foi  este amor que o levou a iniciar-se, então,na pintura e na escrita,com traços muito próprios, quem sabe  numa forma de perpetuar imagens marcantes de realidades sofridas e envolventes»- assim foi apresentado o artista pela direção da Associação Cultural Manuel da Fomseca,então presidida por João Fernando.


"A minha simplicidade de operário da construção civil afastou-me,quem sabe, de uma grande carreira artística"


A Associação Cultural Manuel da Fonseca, no Pragal,está patente ao público,desde o passado dia 2 de Novembro,prolongando-se até final do mês de Dezembro, a Exposição de Pintura de 'Manel Daspanholas',um pragalense que decidiu, finalmente,colocar à vista o seu rico munto artístico,com uma série de quadros de fazer inveja a muitos pintores. 

Nuna das visitas que fizemos à Galeria Manuelda Fonseca, a nossa reportagem falou com o pintor Manuel Rodrigues, um homem simples e que nos recebeu de forma amável e cordial,mas ao mesmo tempo com certa admiração pela inesperada entrevista que lhes solicitamos para que desse a conhecer umpouco da sua vida de pintor.

O seu gosto pela pintura já vinha de longe e mais o apetite se aguçou por esta arte, quando como operário da construção civil foi trabalhar para a casa dopintor Peniche Galveias. Aí, como nos disse admirou belas obras,chegando mesmo a deixar o trabalho para apreciar os quadros expostos na casa de Peniche Galveias. Esse gosto pela pintura,não passou despercebido ao pintor,que observava atentamente Manuel Rodrigues, sem que este desse por isso.

- Decerto que o pintor Peniche Galveias o influenciou Bastante?

-" Sim, ao notar o meu sentido e gosto pela pintura,um dia disse se eu queria experimentar fazer algumas pinturas. A minha resposta embora com alguma timidez, foi logo que sim; e então ele deu-me todo o material necessário, como pincéis,tintas,guache, carvão e ainda me deu 20$00,para eu comprar oque fosse necessário. Os primeiros trabalhos foram feitos e apresentados ao pintor,oqual ficou encantado com os mesmos, tendo de seguida apresentado ao Manuel Cargaleiro e a aalguns peritos na matéria,os quais ficaram fascinados. Estavamos no ano  de 1956".

"Manuel Cargaleiro,marcou uma entrevista com um responsável da Fundação  Caloustne GulbenKian, mas  não compareci " Um simples operário da construção civil,a ser recebido por doutores e professores(dai como disse passei ao lado de uma carreira)"



- Mas quando tudo indicava que as portas se estavam  a abrir para o sucesso,por iroina do destino,o senhor passou ao lado de uma grande carreira. O que se passou de concreto?

-" Disse muito bem que eu passei ao lado de uma grande carreira,porque na altura o Manuel Gargaleiro,marcou uma entrevista com um responsável da Fundação Gulbenkian,para ver a possibilidade de me ser atríbuido um subsídio,mas na hora "H" eu não compareci.Repare,um simples operário da construção civil a ser recebido por doutores ou professores,isso para mim fazia-me grande confusão, daí,talvez,como disse no inicio, eu ter passado ao lado de uma carreira, mas a opção foi tomada.É natural que volvidos todos estes anos,penso que se fosse hoje, não teria hesitado".

- Depois seguiu-se a emigração?

-" Sim, emigrei para o sul de França, para exercer a minha atividade na construção civil, depois fiz parte de um grupo de pintores e poetas,pessoas das artes.Aí fui aceite como mascote, os meus trabalhos começaram a ser vistos e hoje,do que sei, bebi muito,no seio desse extraordinário grupo de que guardo as melhores recordações".

- Após o seu regresso ao país e à terra natal que o acolheu e lhe propôs que divulgasse um pouco da sua arte,arte essa que naturalmente é pouco conhecida dos portugueses?

-" Naturalmente os anos passaram, chegou a reforma e nada melhor que regressar à nossa terra; e foi com muita alegria que recebi o convite para expor os meus trabalhos aqui na galeria da Associação Manuel da Fonseca. E desde já o meu agradecimento à direção da Associação, por me ter facultado este espaço para eu fazer a minha exposição":

- Gostaríamos de saber se já passaram por aqui,para apreciar os seus trabalhos, os pintores Peniche Galveias e Manuel Gargaleiro?

-" Não,ainda não estiveram cá,mas gostaria imenso que eles passassem por aqui, para verem a minha exposição.Daí através do «Jornal de Almada» para que eles apareçam aqui no Pragal".

Esta a entrevista possível ao pintor, ao autodidacta,ao homem simples que ao fim de uma vida árdua,mantém a mesma simplicidade, a mesma timidez, a mesma humildade e postura que não passou despercebida ao entrevistador.
apreciar

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