"In Jornal de Almada 1983" Aguarelas da Trafaria
Uma frente ribeirinha que continua em perigo |
Com o calor que hoje se fez sentir, a minha tarde foi
passada em casa e nada melhor que vasculhar o meu arquivo e às tantas dei com um
suplemento de revista do Jornal de Almada de Dezembro de 1983, que assinalava o
29º Aniversário do periódico almadense, para o qual colaborei até meados de
2006. Na referida revista em “Aguarelas da Trafaria”, não resisti e trinta anos
depois aqui partilho esta nota.
“Quando era garoto, brincava em todo o lado. Na praia, na
mata e na enxurrada.Enxurrada? Era pela enxurrada que devia ter crescido a Trafaria. Pela enxurrada também devia ter sido feita a ligação à via-rápida.
Por que fizeram ali o quartel dos Bombeiros?
Foi um presidente da Câmara de Almada com uma grande visão…mas não viu nada. Nem ele, nem os que o apoiaram. Tal visão cortou a Trafaria. Foi como cortarem a perna boa a um coxo.E assim, se a Trafaria já estava coxa,pior ficou.
Agora para onde se expande? Para o mar?
Já lá estão os Silos, os terminais e outra coisa mais.Mas
aí pode-se habitar,viver,brincar?
A Trafaria cresceu mas foi com o abarracamento que
fizeram até à Cova do Vapor. E com o bairro a seguir aos Bombeiros. Outra
barbaridade!...
Pode crescer, sim furando a rocha, mas até aí está a ESSO. Estamos cercados como mouros em castelo medieval…Agora só pode andar a caminho
da Caparica.
A Caparica, a eterna sanguessuga, tem-nos sugado tudo. Os
barcos despejam aqui os que vão para lá. As camionetas enchem-se aqui com os
que vão para lá. Ninguém fica na Trafaria.
Também chamam S.João,São João de Caparica e não S.João da
Trafaria.
Fomos roubados. E quem nos deixou roubar?
Eu não sei. E você sabe?A Trafaria, como a preguiça, não mexe. Está parada.
Estará morta? Façam-na viver,trafarienses responsáveis. Não se deixem levar mais!... Ou qualquer dia chamam-se trafaricos…”
Kim
“in Aguarelas da Trafaria, Edição Especial Comemorativa
do 29º Aniversário da Fundação do Jornal de Almada e do 4º Centenário da Morte
de Fernão Mendes Pinto” - Dezembro de
1983
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