“Tens
um lenço”? Perguntava-me todas as manhãs a minha mãe à porta de casa,
antes de eu sair à rua. Eu não tinha o lenço e, como não o tinha,
regressava ao quarto e tirava um lenço. Não tinha o lenço todas as
manhãs porque em cada manhã aguardava a pergunta. O lenço era a prova de
que a minha mãe me protegia pela manhã. (...) A pergunta “Tens um
lenço”? era uma ternura indirecta. Uma directa teria sido penosa, algo
que não existia entre os camponeses. O amor disfarçava-se de pergunta.
Só assim podia dizer-se, secamente, em tom de ordem, como as manobras do
trabalho. O facto de a voz ser áspera realçava inclusive a ternura
(...) Só depois saía à rua, como se com o lenço estivesse também a minha
mãe.”
Herta Müller, no discurso de aceitação do Prémio Nobel de Literatura
NARRATIVAS DA MEMÓRIA #2
Sexta-feira, 27 de Outubro, 21h30
Salão de Festas da Incrível Almadense
Sessão única, integrada nas comemorações do 175º aniversário da Incrível Almadense
Informações e reservas: 212750929 | incrivelalmadense@gmail.com
Bilhete normal: 6€ | Jovens, séniores e pessoas da área do espectáculo: 4€
@todos
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