No Jardim do Miradouro há uma árvore quase pedra. Quase escultura.
Dizem os velhos que outrora, o Tejo chegava ali e ainda se encontravam fósseis a comprová-lo.
A madrugada cresce nas raizes desta árvore onde o tempo adormeceu e se consome no silêncio da História.
"É preciso ouvir as árvores" - diz o poeta.
Ouçamo-la pois:
" Fui uma semente pequenina no ventre da Terra mãe."
Cresci para a luz e sempre para o alto.
Bebi o azul das manhãs, o perfume a viagens que nos vem do rio e fiquei assim árvore - verde árvore - forte, árvore - pedra.
Tenho os braços cheios de aves, de borboletas, das palavras ternas dos namorados que à minha sombra se sentam e do riso das crianças que por mim sobem para descobrir onde acaba o Tejo e nasce o céu.
Na minha seiva corre a memória dos velhos Almadenses, a luta dos operários, um cheiro bom a cravos de Abril.
Fica só um bocadinho junto de mim para sentires os aromas da maré alta, ouvires o silêncio e o apito rouco dos navios quando se despedem do Tejo e entram, lá onde o sol se põe, nas águas largas do Oceano donde, dizem, os portugueses viajaram para tornar o mundo mais pequeno e os homens mais irmãos.
Árvore - ninho.
Hoje, aqui, neste jardim, a mais antiga das árvores, a de raízes mais fundas.
Uma árvore que resiste.
Uma árvore - Povo
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Fonte: in-livro uma gaivota no vento
Aguarelas de Carlos Canhão
Textos: Maria Rosa Colaço
Editado pela Junta de Freguesia de Almada em 2001
Nota: Uma árvore que já não existe, no seu local foi plantada uma outra árvore
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